PARANÓIA EM ASTRAKAN


Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugadas tingindo seus olhos com lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões para pequenos paquidermes que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam a descarga sobre o mundo

onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte branco

onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorróidas das beatas
onde as cartas reclamam drinks de emergência para lindos tornozelos arranhados
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da imaginação

Roberto Piva
em Paranóia



DOM SALVADOR E ABOLIÇÃO
- SOM, SANGUE E RAÇA - 1971 -

3 Comments:

At 2 de maio de 2007 às 14:54, Anonymous Alex Senna said...

esse som é loco demais. o dom salvador ficou puto e caiu fora pra gringa porque aqui ninguém dava um puto pro som deel, anos depois ele voltou pro brasil e fez uns dois shows por aqui. no disco instrumental do ed motta tem uma música pra ele, chama "um dom pra salvador"

 
At 26 de junho de 2007 às 22:32, Anonymous zé da lua roxa said...

piva é pura imagem
tecelão de nomes que saem de si como a gosma da aranha
ébrio do poente que traz lembranças de anarquistas e surrealistas, simbolistas e romãnticos e
o gosto amarelo e ruivo
da mitologia, xamanismo, alquimia
piva é o poeta da rebelião e do renascimento da imaginação
uma viva consciência da liberdade

 
At 25 de janeiro de 2009 às 13:51, Anonymous Anonymous said...

thanks for this great treasure!

 

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